Rio

Rio e rio alto,

também rio baixo.

Rio pra mim,

rio comigo e de mim.

Também sei chorar,

chorar de soluçar.

Às vezes, rio de lágrimas.

Noutras, rio

em vão,

para as lágrimas disfarçar.

Há momentos em que só sorrio.

No riso ou no choro,

só.

À noite

A noite me presenteia com o esvaziar de mim,

mostra o quão aprazível é o renunciar do ego

e o mergulhar em percepções que são só nossas,

frouxas de amarras que a correria do dia ousa nos trazer.

Só a noite revela o qual risível somos à luz do dia

sob os olhares julgadores que normatizam

os nossos corpos dóceis.

Só à noite eu rezo mais sincero,

mais agradeço e menos peço.

Mais só contemplo e me despeço,

até o raiar devolver a mim

o meu eu cheio de mim.

Tanto amor

Eu amo tanto!

É como se eu soubesse

que tanto amor

também me amará,

tanto quanto estou disposto

a uma aventura me entregar.

Nunca é em vão o amor,

amor nunca é tanto.

Tanto amor ainda é insuficiente

para o quanto somos capazes de amar.

O que parece transbordar

não escorre despercebido.

O amor nutre outros corações

ferventes por serem acolhidos.